A educação dos filhos em relação ao dinheiro, seu uso, sua guarda, seu valor relativo e o que ele representa em termos de garantia sempre preocuparam os pais mais atentos. No entanto, com a velocidade dos dias de hoje isto é cada vez mais preocupante. ´
Patrimônios se desfazem da noite para o dia. As economias se transformam e o que tem valor hoje, amanhã pode deixar de ter. É difícil prever o futuro das gerações mais novas e das que estão por vir. Cada vez mais a máxima de que a educação é o que verdadeiramente vale em termos de legado patrimonial, é valida. Desta forma precisamos melhor educar nossos filhos a respeito.
A notícia abaixo, publicada no jornal Valor Econômico desta quinta-feira dia 17 de maio de 2012 pagína D2 do Caderno Eu&Investimentos ilustra bem o quanto ainda somos deficientes nessa talvez, mais nobre missão dos pais, que é educar.
Você acha que não mente para os filhos sobre dinheiro? Eis uma cena desonesta muito comum: um pai diz “não” para um item de US$ 10, alegando não ter dinheiro suficiente, mas aí coloca uma bugiganga de US$ 15 no carrinho do supermercado para si mesmo.
“Quando você diz que não pode comprar algo que realmente pode, você está perdendo a oportunidade de falar sobre prioridades e conflitos ao fazer escolhas”, afirma Stuart Ritter, vice-presidente da T. Rowe Price (empresa americana de investimentos) e pai de três filhos. “Acho que subestimamos a capacidade das crianças de perceber o que estamos fazendo.”
Ritter, um especialista em educação financeira, esteve envolvido em um estudo para a T. Rowe Price intitulado “Pais, filhos & Uma visão geral sobre o dinheiro”. No estudo, a empresa entrevistou mais de 800 crianças entre 8 e 14 anos, além de 1.008 pais (divididos entre mães e pais).
A empresa constatou que para os pais o dinheiro é um tema tão difícil de ser tratado com os filhos quanto o sexo. Na verdade, eles têm tanta dificuldade que mentem a respeito ou evitam falar sobre dinheiro, embora em muitos casos os filhos percebam que algo está acontecendo. Trinta e três por cento dos pais informaram que evitam conversar sobre dinheiro com os filhos.
Entre os assuntos mais evitados estão os desentendimentos entre pai e mãe por causa de dinheiro: 46% dos pais disseram que isso é um problema, enquanto 42% dos filhos afirmaram estar cientes desses conflitos. E mais: 77% dos pais disseram que nem sempre são honestos com os filhos quando o assunto é dinheiro, com 15% afirmando mentir pelo menos uma vez por semana. Além disso, 32% revelaram que dizem aos filhos que não podem comprar algo que na verdade podem.
Há inúmeros estudos sobre questões que envolvem o dinheiro e a família. Recentemente, a Junior Achievement e a Allstate Foundation divulgaram a pesquisa “Adolescentes & Finanças Pessoais”, em que 56% dos adolescentes previram que terão uma vida financeira igual ou melhor que a de seus pais, ante 89% registrados pelo estudo em 2011.
A dificuldade que os pais têm para falar sobre dinheiro faz sentido para as pessoas que estudam o assunto do ponto de vista psicológico. Gustavo Carlo, um professor que dá aulas de comportamento e desenvolvimento infantil na Universidade do Missouri (EUA), é coautor de um estudo mostrando que os laços entre pais e filhos são prejudicados por preocupações com dinheiro. Os pais, por exemplo, sentem-se menos conectados aos filhos. O principal problema é a comunicação fraca entre as partes. “Se os pais, por exemplo, decidem dar para o filho algo que ele quer, isso não significa que a família está com uma situação financeira boa. Mas essa pode ser exatamente a mensagem que a criança recebe.”
Os pais, em geral, fazem um trabalho abaixo do ideal ao explicar quais são suas funções. “Os pais precisam conversar com os filhos, para que mal entendidos sejam minimizados”, diz Carlo.
Quando os pais tentam amenizar os problemas financeiros em casa, “eles não estão enganando ninguém, especialmente os filhos”, diz Susan Beacham, fundadora da Money Savvy Generation, uma companhia de Chicago (EUA) que desenvolve produtos que ensinam habilidades financeiras pessoais básicas para crianças em idade escolar.
Em seu livro infantil “Home Sweet Home”, que também tem como autoria Lynnette Khalfani Cox, uma criança enfrenta o fato de que sua família está com problemas financeiros e poderá perder a casa. Beacham baseou os infortúnios da personagem no que ela vê em seu trabalho: quando os pais escondem informações dos filhos, isso os torna “mais ansiosos, e não menos”.
A visão das crianças em relação ao dinheiro prova que os pais têm um longo caminho a percorrer em seus ensinamentos; 22% afirmam que um cofrinho é o melhor lugar para se guardar dinheiro quando se quer que ele aumente ao longo do tempo. Em outros exemplos, elas abraçam as variações modernas do mito de que o dinheiro cresce em árvores.
Stuart Ritter lembra que recentemente sua filha de seis anos disse que queria ter seu próprio cartão de crédito. Quando ele perguntou o motivo, ela respondeu de pronto: “Porque se eu tiver um cartão de crédito, posso entrar numa loja e comprar tudo o que eu quiser”.
Mesmo assim, os filhos em geral admiram os pais o suficiente para dar a eles notas maiores como guias financeiros do que os próprios pais se dão. 44% dos filhos dão aos pais um “A” (e, no geral, a nota “B+”), enquanto apenas 17% dos pais dão a si mesmos um “A” (e, no geral, a nota “B-“).
“É muito mais fácil dizer que não sabemos, quando na verdade podemos estar querendo dizer que não sabemos por onde começar”, diz Lule Demmissie, diretora-gerente de produtos de investimento e aposentadoria da TD Ameritrade. Em vez de fugir de questões difíceis ou financeiras, ela sugere que os pais usem a curiosidade dos filhos e transformem as dúvidas em uma aventura de aprendizado para todos.
Mesmo pais que possuem uma vida financeira estável mantêm, no entanto, crenças estranhas, constatou o estudo realizado pela T. Rowe Price. O número de pais que acreditam que a previdência pública estará disponível na presente forma quando seus filhos se aposentarem é de 26%. O número daqueles que acreditam que há vida em outros planetas? É mais que o dobro: 59%. (Tradução de Mario Zamarian)