Virada de ano é sempre tempo de previsões e da análise de cenários. Em anos com eleições presidenciais, como o de 2014, reflexões ou mesmo tentativas de se adivinhar o que está por vir ganham mais força
Ao que tudo indica há pouco o que se esperar em termos de novidades no cenário eleitoral. A reeleição da presidenta Dilma parece não sofrer maiores riscos em que pese a economia ir mal e, mais grave, com tendência a piorar não somente em 2014 mas, principalmente, em 2015 considerando as estrepolias que o governo terá que fazer para assegurar esta vitória.
Mas se a economia vai mal e a classe política, em especial a que apoia o governo, idem, o que levaria a Presidenta Dilma se reeleger, ao que tudo indica, com relativa facilidade?
Existem algumas razões facilmente percebidas. A principal delas é que, em se tratando de um governo com foco em programas assistenciais – Bolsa Família, minha Casa Minha Vida, etc. não haveria como, os sinais negativos da economia chegarem a ser percebidos pela maioria da população a tempo de alterar o resultado das eleições. Outras, frequentemente mencionadas pelos analistas são: i) Aécio Neves não conseguiu nem conseguirá harmonizar seu partido, o PSDB, considerando a eterna vontade de José Serra, ser presidente; ii) Eduardo Campos, do PSB, não tem, suficiente expressão nacional; iii) ambos não tem carisma suficiente para alterar o quadro que aí está; iv) Lula, que “faz chover” e “elege postes”, já colou na presidenta e isso, de certa forma, a faz imbatível.
Existe um pouco de tudo isso. Ocorre que isso encobre o principal. Não existe ideia ou proposta certa fora do seu tempo certo. Este parece ser o cerne da questão eleitoral de 2014. O chamado “inconsciente coletivo” da população brasileira vivencia conquistas por etapas. Infelizmente o coletivo, por assim dizer, precisa atingir seu ponto de exaustão para que mudanças ocorram. Uma análise do passado recente nos mostra isso com clareza. “Lutamos” pelas diretas, após o esgarçamento do regime militar; elegemos Collor porque representava o novo mas mais que isso, porque não mais suportávamos a inflação, cuja batalha foi ganha na sequência dos governos seguintes de Itamar Franco e Fernando Henrique. Passamos então, a ter necessidade de ampliar o processo de inclusão social, iniciado com o termino da inflação descontrolada e, num segundo estágio, pelas ações de assistência social realizadas nos dois primeiros mandatos de Lula, do PT. Infelizmente, todo o sucesso da era Lula começou a ser comprometido pela mudança dos ventos no cenário mundial. A crise de 2008 fez com que o governo brasileiro a combatesse através de uma política expansionista de elevação dos gastos do setor público.
No governo Dilma, exaurimos o modelo de crescimento sustentado por incentivo ao consumo. Precisamos de investimentos e para viabilizá-los, de poupança. Só que o cenário mundial mudou. EUA e Europa começam a dar sinais de reação. O Brasil perdeu competitividade na disputa pelo do capital internacional. A inflação não está, em absoluto, sob controle. O déficit em transações correntes assim como a dívida pública e os juros, subiram bem acima do razoável. Infelizmente, ainda há muito o que piorar antes que efetivas mudanças ocorram. Neste sentido, em que pese o PSDB já ter “ido embora” e o PT “ter ficado para apagar as luzes”, à este último, provavelmente, as urnas possibilitarão mais um mandato a partir de 2015,
Até aí nada de novo. O que existe de novo é que estamos findando um ciclo. Neste novo ciclo, ainda a caminho, não existirão mais nem o PT nem o PSDB. Precisaremos de novos nomes, provavelmente de novos partidos. Será necessária uma representação que personifique as necessidades da maioria da população. Que amplie e consolide o processo de inclusão social. Não mais pela via assistencialista mas atavés da educação. Por meio de uma ampla melhoria do processo de gestão, em todos os níveis, inclusive o político. Essa é a boa notícia. A má é que, provavelmente, ainda teremos que caminhar por mais 4 anos até que estas mudanças tomem forma. De qualquer maneira, já é possível se enxergar luz no fim do túnel!
Cláudio da Rocha Miranda – Economista – Prof. da FGV – Chair da Vistage (sites: www.claudiorochamiranda.com.br; www.vistage.com.br e blog www.ogriloflalante.com)
1 Comentário
Claudio,
Perfeita a sua análise e seu poder de síntese …agora será que alguma disruptura ou fato relevante , não pode dar uma mãozinha e acelerar o processo…mais 4 anos ninguém aguenta….
Abs
Luiz