Um dos maiores desejos do ser humano é o de sentir-se “pertencido”. A psicologia certamente explica isso em todos os seus meandros.
Infelizmente o executivo é uma vítima de mão cheia desta característica inerente a nossa raça.
As empresas de modo geral procuram propiciar aos seus colaboradores o máximo de segurança de forma que eles tenham uma sensação absoluta de “pertencimento” aumentando com isso seu sentimento de equipe e, em consequência, a sua produtividade isto é fazer mais (de preferência com menos) e melhor.
De modo geral a política de benefícios está embalada na máxima de que as melhores empresas são as que disponibilizam as melhores cestas de planos de saúde, de previdência, de celulares e de outras despesas que são arcadas para os cargos mais elevados tais como carros para uso particular além de outras como, por exemplo, as despesas da moradia.
Claro que, especialmente no Brasil, onde a incidência tributária na relação trabalhista é extraordinária, muitos benefícios, também conhecidos como salários indiretos, são oferecidos pelas organizações de forma a terem uma tributação menor do que se comparados com o mesmo valor pago em carteira.
Mas como o objetivo aqui não é discutir a legislação trabalhista brasileira vamos nos deter ao psiqué do executivo relativamente ao “pertencimento”.
Acabo de ser matéria no jornal Valor com o título: “Companhias demitem e apagam dados, sem avisar” http://www.valor.com.br/empresas/3404116/companhias-demitem-e-apagam-dados-sem-avisar Trata-se de reportagem comportamental reproduzida do The Wall Street Journal comentando a mais recente prática das organizações que ao demitirem ou mesmo, as mais neuróticas, de tempos em tempos, fazerem uma limpa virtual em todos os dados, pessoais e profissionais, de seus colaboradores. Sem mais nem menos todos aqueles dados inclusive fotos, e-mails, mensagens e endereços profissionais e também pessoais não mais existissem.
Claro que isso somente é possível quando se utiliza do telefone da empresa. Que está dentre deste pacote de benefícios, hoje muito comuns e também muitíssimo desejados pelos colaboradores.
É a total mistura entre o pessoal e o profissional. É o caminho mais curto para perder sua identidade pessoal ao longo do tempo e ficar dependente da identidade profissional. Tudo bem quando estamos “embarcados” (empregados). O problema é o transtorno tanto o psicológico quanto o prático que isso traz quando o colaborador deixa de ser colaborador e passa a ser somente o Paulo, o João o Antônio. Deixa de ter o sobrenome e os benefícios da organização que o abandonou seja por desejo dela seja até mesmo pela aposentadoria.
Diz o ditado popular que “se conselho se fosse bom não se dava se vendia” ou ainda, mais apropriado para o caso que “conselho é sempre autobiográfico”. Mais na linha deste último, vou dar o meu: se puder evitar de ter o celular da empresa, o plano de saúde e outros penduricalhos e, ao invés disso, negociar que ela pague o seu, faça isso. Desta forma você continua sendo você mesmo com seu nome e seu sobrenome mesmo depois de sair dela.