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Entrevista baseada na palestra sobre Terrorismo, Extremismo e Criminalidade proferida pelo Prof. Francisco Carlos Teixeira da Silva – Assessor do Ministério  da Defesa – Instituto Pandiá Calógeras – ao Grupo Vistage-CRM de empresários – coordenado  por Cláudio  da Rocha Miranda, no Rio de Janeiro.

FOTO CHICO 3

“O terrorismo atualmente é espetaculoso, midiático e pedagógico”

Sediando as Olimpíadas o Rio de Janeiro parece possuir o cenário perfeito para que ocorram atentados terroristas. Ataques na França, às vésperas dos jogos Olímpicos, só fazem aumentar nosso receio. O Professor da UFRJ/ECEME/Escola Superior de Guerra e do Instituto Pandiá Calógeras – Ministério da Defesa, Chico Carlos – um super especialista no assunto, conversou com o grupo VISTAGE – CRM por cerca de duas horas – que mais pareceram 15’ – sobre o tema. De modo geral, mencionou como estes grupos se articulam, o que buscam e quais seus comportamentos mais frequentes, se é que é possível falar de “frequência” em atos terroristas. Falou-nos também sobre uma possível nova onda antissemita e do xenofobismo,  inspirador de grupos radicais de direita.

Como as palavras o vento leva, convidei-o para uma entrevista que tem como base os  tópicos mais relevantes da palestra que fez para o nosso grupo.  

Confiram a seguir:

  1. CRM: Chico, a partir de 11 de setembro de 2001, com o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono o terrorismo parece ter mudado de forma. Seria possível você resumir o que ocorreu antes e depois desta data em termos de “estratégia” terrorista?

De forma simples e direta, se é que podemos tratar o assunto desta forma, diria que o Terrorismo deixou de ser um assunto “local” ou “regional”, circunscrito ao um território, região ou “teatro de operações” – como a Irlanda, Espanha ou Colômbia entre outros – para tornar-se um fenômeno global, sem uma “frente” de luta, difuso e capaz de acontecer em qualquer momento ou lugar. Também não há um alvo predileto – policiais, políticos, ou um grupo étnico ou religioso – passando a ser um fenômeno de massa.

  1. CRM: É possível sintetizar o que, exatamente, os terroristas pretendem com suas ações?

O objetivo imediato do Terror é causar o medo, a desconfiança e a insegurança geral visando assim, ao amedrontar a população, obrigar os governos a desistir de uma determinada política, retirando deste governo a legitimidade do aceite popular. Assim, o “centro de gravidade” a ser atacado pelo Terror não são as forças militares do adversário – embora, claro, possam ser atacadas – mas, prioritariamente, a população que legitima o governo.

  1. CRM: Qual a principal característica do terrorismo no dia de hoje?

Vivemos, no momento, e isto é o que mais preocupa, uma “onda” de terrorismo de massa – de vitimização de massa, de ações de massa e, através de meios de comunicação massivos, que devem sempre que possível ( para a lógica do Terror) estar presente no ato de Terror.  A principal organização terrorista hoje é o Daesh, ou Califado Islâmico, que não possui quaisquer escrúpulos quanto ao estabelecimento de objetivos ou métodos. Dispensa, se necessário, longas e custosas operações – como a Al-Qaeda fez no 11 de setembro de 2001. O Daesh, utiliza-se  dos meios digitais, dos sítios eletrônicos, do twitter, do Telegram, entre outras ferramentas para mobilizar voluntários em qualquer parte do mundo.  Sem que haja necessidade de qualquer ligação com o regime estabelecido na Síria-Iraque.

  1. CRM: As ações do Narcotráfico podem, também serem classificadas como ações terroristas?

Claro, ao queimar ônibus e atacar instituições do Estado de Direito utilizam-se de “métodos” terroristas, embora seus objetivos possam ser mais limitados ou sem um programa político. Contudo, podem, claramente, paralisar a ação de um governo legitimo, substituir o poder do Estado sobre algumas populações e desacreditar o regime.

  1. CRM: Chico, o anti semitismo está reascendendo no mundo? Ações antissemitas são feitas por grupos distintos aos terroristas sobre os quais estamos tratando?

Há uma larga vaga antissemita, muito comum em organizações de extrema-direita nos Estados Unidos, como a “Aryan Nation” e outras, além de uma associação perversa do antissemitismo e simpatia pela Palestina. Vários partidos e entidades de cunho xenófobo, na Europa e nos EUA, fizeram renascer o antissemitismo nos nossos dias.

  1. CRM: Seria possível afirmar que o terrorismo não possui um campo de batalha mas sim “janelas de oportunidades”?

Chamamos de “janela de oportunidade” a conjunção de fatores, alguns de caráter subjetivo, que ocorrem para facilitar o ato terrorista. O Terror é uma prática, além de cruel, “oportunista”, que visualiza locais, organizações, momentos que ofereçam as maiores oportunidades para o êxito da ação terrorista.

  1. CRM: Existe um alvo preferencial?

Não, o Terror atual é massivo, busca – através de meios potentes ou de ações simultâneas e/ou sequencias – potencializar o máximo possível o ato terrorista. Evidentemente, países e instituições que tenham alguma relação com o conflito com o Califado Islâmico estarão, sempre, mais sujeitos à premeditação terrorista.

  1. CRM: Em sua opinião eles se sofisticam numa velocidade superior à da inteligência mundial antiterror?

Nos últimos 90 dias – maio, junho e julho de 2016 – apesar dos violentos ataques ao Daesh, e seu recuo territorial, tivemos ataques massivos em Bruxelas, Orlando, Istambul, Dacca,  Bagdad e mais uma vez na França , em Nice. Mataram centenas de inocentes. Ou seja, o Ocidente e seus serviços não estão conseguindo fazer um trabalho conectado, organizado e preventivo ao menos para garantir alertas prévios.

  1. CRM: Quem é mais coeso (articulado), as forças mundiais antiterror ou os terroristas?

Difícil de dizer: Alemanha, Israel, possivelmente… Mas, isso não garantiu, nem poderá garantir, a ausência de ataques.

  1. CRM: Em que medida uma maior articulação de forças antiterror beneficiariam o combate ao inesperado considerando que a possibilidade de vazamento de informações aumentaria?

Tais instituições são profissionais… Se vazar é despreparo. Esta não é uma variável aceitável.

  1. CRM: Chico, em sua palestra você afirmou que “nem todo terrorismo é igual”. Você pode resumir o que quis dizer com isso?

O Terror das FARCS não é o Terror do califado islâmico: combater ambos da mesma forma seria um erro total. Por sinal, no momento as FARCS discutem um tratado de paz com o governo da Colômbia. O Califado Islâmico visa a total destruição do adversário e não um acordo vantajoso.

  1. CRM: Outra frase sua que impactou os presentes foi quando você disse que “o terrorismo é um espetáculo com finalidade pedagógica!”. Você pode melhor explicar isto?

O ato terrorista é massivo, público e busca a maior difusão possível (ao contrário seria “sabotagem”). O caráter pedagógico do ato terrorista (note bem, “pedagógico” aqui tem sentido metafórico ) visa dois objetivos: aglutinar e incentivar seus aliados e amedrontar seus adversários, mostrando que mesmo que este seja poderoso – EUA, França – um ente bastante menor e menos dotado de meios financeiros e tecnológicos, poderá atingi-los, mesmo no coração de suas capitais.

  1. CRM: O Rio vive às vésperas de uma Olimpíada. Aparentemente estaremos diante de cenário  onde todas as condições  são propícias a um “espetáculo pedagógico”. Por outro lado, o cenário de uma Olimpíada me parece meio que óbvio demais. Salvo engano, o terrorismo foge ao máximo das obviedades. Se o meu raciocínio faz sentido, qual o risco de termos algum atentado terrorista nestas Olimpíadas?

O caráter óbvio das Olimpíadas e das delegações estrangeiras enquanto alvo é claro. A elevada concentração de meios de comunicação no mesmo local combinada com a reconhecida incapacidade do governo local controlar o crime organizado pode gerar uma “atração fatal” sobre qualquer evento que reúna  muita gente.  Assim, meios de transporte, casas de espetáculo e restaurantes, com a presença de estrangeiros, passam a  serem também, alvos substitutos possíveis.

  1. CRM: Você é um historiador renomado. Conte-nos um pouco sobre como você decidiu por especializar-se no tema?

Estamos preocupados com os rumos das relações internacionais e a crise das instituições globais, hoje tão ameaçadas, e não só pelo Terror. Hoje, a continuidade da crise econômica, a xenofobia, os amplos movimentos de imigração, a ressurgência do racismo e do seu pior exemplo, o antissemitismo, são ameaças brutais à paz. Em conjunto, tudo isso desperta o interesse de qualquer pesquisador, historiador.

Espero poder contar com você outras vezes. Parabéns pela palestra e muito obrigado pela entrevista!

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