Entrevista com o Professor Alberto Ferreira De Souza baseada na palestra “Inteligência Artificial e a Quarta Revolução Industrial”, realizada em fevereiro de 2017 no Rio de Janeiro para o Grupo Vistage – coordenado por Cláudio da Rocha Miranda
Muito se tem discutido sobre o tema Inteligência Artificial. Aliás, ele não é novo. A diferença é que parece não mais tratar-se de futurologia. O futuro já chegou! O que se faz, se pesquisa ou se fala sobre Inteligência Artificial diz respeito não mais a se ela já é uma realidade ou quando será, mas sim sobre como avançar, ampliar suas aplicações. O velho dilema da ciência – quanto mais se descobre mais se sabe sobre o quanto ainda não se sabe. Para alguns pesquisadores, como Yuval Noah Harari (autor dos livros Homo Sapiens e Homo Deus) a concepção antropocêntrica de mundo cede, de forma acelerada, lugar ao “datacentrismo” onde o controle sobre os dados pode dar conta de todo o conhecimento, reorganizar a sociedade e, mais que isso, para o bem ou para o mal, criar uma classe de humanoides perfeitamente substituíveis. Isto nos remete aos medos com os quais a humanidade sempre se deparou ao adentrar numa nova era. Foi assim na Revolução Agrícola, na Industrial, na Tecnológica e agora nos primórdios desta quarta Revolução, a da Inteligência Artificial. A questão é que sabemos que o Homem é dotado de dois grandes sistemas: o físico e o mental – o cognitivo. Até agora, todas as revoluções substituíram a função do Homem na sua característica física, manual. A inteligência artificial veio para substituir a inteligência cognitiva. Este é o novo desafio. Claro que estamos ainda engatinhando neste processo mas é impossível duvidarmos de que ele avançará, e muito; o que nos remete à algumas questões. Qual o papel que nós, simples humanos, passaremos a desempenhar na sociedade? Do que nos ocuparemos? O que ensinar nas escolas que não esteja obsoleto daqui a uma, duas décadas, no máximo? Qual a fé religiosa, a ética destas engenhocas super dotadas? Nosso entrevistado, Prof. Alberto Ferreira De Souza*, em sua palestra mencionou que, segundo Karl Marx, toda a riqueza advém da exploração do trabalho humano, pelo capital. Assim sendo, considerando que muito pouco teremos a fazer, seremos todos ricos pois teremos tudo sem nenhum trabalho ou ao contrário, uma extraordinária parte da humanidade não terá nada, nos levando a ter saudades do capitalismo, mesmo daquele mais selvagem? Se estes Robôs, dotados de inteligência baseados em sofisticados algoritmos, forem capazes de se desenvolverem autonomamente, o que eles poderão fazer com o Homem? Talvez o que nós fizemos com os outros animais? Eles brigarão entre si, assim como muitos povos persistem em fazer através de inúmeras guerras? Enfim uma enorme quantidade de temas relevantes não somente para avançarmos um pouco no tempo (50 a 70 anos) como também para melhor nos posicionarmos nestas primeiras décadas do século XXI, tanto no plano pessoal quanto em nossas organizações. É sobre tudo isso que o Prof. Alberto Ferreira De Souza tratou em sua palestra. Considerando a importância deste tema tenho o prazer de entrevistá-lo, confiram:
1. CRM: Até muito pouco tempo atrás, falar de inteligência artificial nos remetia a um futuro longínquo. Livros como o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley – um Best-seller do gênero, confirmam esta tese. O futuro chegou
Alberto: Sim. A humanidade está muito próxima de desenvolver a consciência artificial, ou seja, entes com conhecimento de sua existência e da existência de outros entes, e capazes de dialogar e interagir fisicamente com outros entes conscientes, como nós, por exemplo. Consciências artificiais à nossa disposição e sob nosso controle vão transformar completamente o mundo como nós o conhecemos, e de forma muito mais profunda do que a Internet, por exemplo.
2. CRM: Inteligência é a capacidade de solucionar problemas. Esta definição está correta? O que é inteligência artificial?
Alberto: Pode-se definir a inteligência de diversas formas. Eu gosto da definição da inteligência como a capacidade dos organismos de se adaptarem ao meio ambiente. Dentro desta definição, mesmo um organismo unicelular possui inteligência e, acredito, de fato possuem certo nível de inteligência, ainda que muito diminuto. Contudo, me interessa muito a inteligência aplicada a problemas do mundo real enfrentados pela humanidade, ou por nós, seres humanos, individualmente. Graças aos avanços recentes da área de inteligência artificial, hoje somos capazes de desenvolver máquinas inteligentes, como carros autônomos, por exemplo. Carros autônomos interagem diretamente com o mundo real e são capazes de se adaptar a mudanças significativas do meio ambiente para atingir seus objetivos que são, no entanto, definidos pelos seus donos, ou seja, nós, seus criadores. Eles podem se adaptar a variações de iluminação, presença de objetos em seu caminho, como outros carros, pedestres, etc.
3. CRM: A ciência cada vez mais demonstra que a vida é uma sequência de algoritmos complexos que podem ser reproduzidos de forma não orgânica ou seja, artificialmente. Assim sendo, faz sentido dizermos que o mundo cada vez mais deixa para trás a concepção “antroprocêntrica” dando lugar ao “datacentrismo” conforme defende o cientista israelense, Yuval Noah Harari? O que você diz disso?
Alberto: De fato, o funcionamento do mundo moderno está cada vez mais ancorado em dados e no seu processamento. Eles e sua manipulação permeiam quase todos os aspectos do funcionamento dos países mais avançados do planeta hoje. Só para ficar em dois exemplos, a troca de dinheiro por bens ou serviços é frequentemente realizada como uma simples manipulação de dados em servidores na cloud, e nossa saúde é cada vez mais regulada por estatísticas baseadas em dados colhidos em estudos de grandes populações, como aqueles que apontam a importância dos níveis de colesterol ou de açúcar no sangue. Algoritmos de computador determinam muitos aspectos de nossas vidas, “influenciando” nossas escolhas de filmes, livros e de alimentos saudáveis. Harari vai além nesta análise e prediz um futuro onde eles poderiam nos tornar obsoletos, antevendo (ele) um possível futuro tenebroso como o de filmes e livros de ficção científica que tratam de futuros distópicos. Eu acredito que desenvolveremos a inteligência artificial até conseguirmos conceber a consciência artificial. Nós colocaremos consciência artificial em robôs de diversos tipos (como carros autônomos, por exemplo) e outras máquinas mais simples e elas viabilizarão uma nova era de grande abundância para a humanidade. Existem riscos, é claro, mas, como no caso da Internet, acredito que a humanidade como um todo vai partilhar os benefícios da consciência artificial. Isso porque a inteligência artificial está sendo desenvolvida em paralelo em muitos países do planeta e será praticamente impossível que consciência artificial que, acredito, resultará deste desenvolvimento, não seja “open source” logo de início.
4. CRM: Você acredita que o Homem sempre terá uma aptidão exclusiva ou para você, assim como para alguns cientistas, isto é não é verdade?
Alberto: Não creio que o ser humano terá aptidões exclusivas. No início da história da inteligência artificial, a comunidade científica buscou problemas difíceis para servirem de benchmark para sistemas inteligentes artificiais. Escolheu, dentro outros, o jogo de xadrez como um destes problemas. Em 1997 o computador da IBM Deep Blue (e seus algoritmos) venceu o maior campeão de xadrez da época, Garry Kasparov. Em 2011, o sistema Watson, novamente da IBM, venceu dois campeões do Jeopardy!, um jogo de um programa televisivo dos EUA onde pessoas competem por prêmios milionários respondendo perguntas sobre conhecimentos gerais. Em 2016, o sistema AlphaGo, da Google, venceu Lee Sedol, o maior campeão do planeta no jogo Go, similar ao xadrez e considerado o último bastião da inteligência analítica humana contra as máquinas. Na verdade, problemas analíticos complexos não são mais resolvidos por seres humanos mas sim por algoritmos: cálculo de estruturas de prédios e pontes, projeto de antenas de celulares, a interconexão dos componentes de um microprocessador, a escolha de ativos em bolsas de valores, a determinação do prêmio de um seguro, o escalonamento de trens em ferrovias e de tripulações de aviões, tudo isso e muito mais é resolvido por máquinas. Fazer qualquer destas atividades apenas usando nossas capacidades analíticas é muito desvantajoso. Por estranho que possa parecer para muitas pessoas, as aptidões humanas mais difíceis de serem alcançadas por máquinas inteligentes são aquelas que para nós são mais fáceis, automáticas até, como andar, reconhecer um objeto visualmente, reconhecer o que outra pessoa diz, ou mesmo dirigir. Mas uma após outra estas aptidões estão sendo adquiridas por sistemas inteligentes e produtos baseados nestas aptidões já estão disponíveis no mercado. O grande desafio é o desenvolvimento da consciência artificial e acredito que estamos a poucas décadas, senão anos, de superar este desafio
5. CRM: Estamos vivendo uma quarta revolução. Passamos pela Revolução Agrícola, Industrial, da Informação e agora a da Inteligência Artificial. Todas, até agora, substituíram, a parte física e manual do Homem pela máquina, pela tecnologia. Foi um enorme ganho de produtividade. Rapidamente surgiram novas atividades e o emprego, como um todo, foi reestruturado. Prova disso, o crescente peso do setor terciário no PIB e, por consequência, sua expressão na absorção de mão de obra. Agora parece ser diferente. A Inteligência Artificial veio substituir o lado mental, cognitivo do Homem. Não temos experiência nisso. Qual a sua opinião sobre este fato e quais as consequências dele para o emprego e para a sociedade?
Alberto: Gosto de dizer que, hoje, qualquer cidadão de país desenvolvido ou em desenvolvimento pode ter uma taça do tipo usado para se beber vinho; contudo, há poucos séculos atrás, apenas reis, rainhas e outros membros da nobreza poderiam ter uma. Graças aos ganhos de produtividade advindos das 3 primeiras revoluções industriais, a humanidade como um todo enriqueceu, no sentido de que nossas necessidades fundamentais e mesmo as não fundamentais (como taças de vinho) podem ser atendidas. Apenas artesãos muito especializados faziam taças de vinho e em pequenas quantidades há séculos atrás; hoje, máquinas avançadas fazem taças de vinho em larga escala automaticamente. O aumento da riqueza resultante vem da quase não necessidade de atuação humana para produção destas taças. Nesta quarta revolução industrial, cada vez mais etapas da produção, distribuição venda de produtos será feita por máquinas inteligentes. Isso trará mais riqueza, mas forçará o deslocamento da força de trabalho humana para atividades diferentes das que fazem hoje. A sociedade precisa discutir este processo para que ele ocorra de modo a aumentar a riqueza sim, mas com justiça social.
6. CRM: Em sua opinião, como isto deve mexer com a Educação? O que ensinar a uma criança, a um jovem que não esteja obsoleto em poucos anos?
Alberto: Nós, humanos, nascemos sabendo muito pouco – precisamos aprender até como andar e falar. Apesar da necessidade de educar a todos, a atividade de ensinar evoluiu pouco desde Platão e Aristóteles e das “escolas” que criaram na Grécia antiga. Muito embora novas tecnologias, especialmente a Internet, estejam transformando a educação, a forma como aprendemos não deve mudar muito no curto prazo devido às restrições impostas biologia de nosso corpo. Mas haverá um aumento contínuo da presença de robôs na educação formal tão logo robôs humanoides passem a habitar entre nós. Ou seja, no futuro, os professores serão, em sua maioria, robôs. Até chegarmos lá haverá uma mudança contínua do mercado de trabalho, com substituição de pessoas por máquinas inteligentes. As atividades que serão substituídas mais tarde serão aquelas que requeiram habilidades ainda difíceis para robôs, físicos ou não, desenvolverem, ou seja, aquelas ainda difíceis para a inteligência artificial. Atividades como a de dirigir veículos, embalar e movimentar produtos, ou mesmo plantar, colher e industrializar alimentos, já não são difíceis para a inteligência artificial e robôs. Não são porque podem ser fragmentadas em um número não muito grande de etapas, sendo que cada uma destas pode ser descrita de forma mais ou menos precisa e, posteriormente, podem ser “ensinadas” para sistemas de inteligência artificial. As atividades ainda difíceis para a inteligência artificial são aquelas que não podem ser facilmente fragmentadas em etapas que possam ser de descritas de forma precisa. As atividades de criação, comum nas artes, nas engenharias e outras áreas, se enquadram naquelas mais difíceis para a inteligência artificial.
7. CRM: Quais devem ser as carreiras mais afetadas?
Alberto: Carreiras de apoio às atividades mais criativas, tais como a de secretaria e de gestão de nossa burocracia do dia-a-dia logo desaparecerão. Motoristas também em breve não serão mais necessários. Cozinheiros na área de fast-food, garçons, técnicos de diversas áreas e até mesmo programadores de computador logo estarão em risco. Mesmo a necessidade do trabalho de médicos, por exemplo, deve ser em muito afetada. Isso porque, mesmo em áreas como a da medicina, há seguimentos cujas atividades podem ser fragmentadas em um número não muito grande de etapas, sendo que cada uma destas pode ser descrita de forma mais ou menos precisa. Um exemplo é o trabalho de análise de exames de imagem, que já pode, em grande parte, ser realizado por inteligência artificial.
8. CRM: O que um paciente pode obter de vantagens ao ser atendido por um Robô ao invés de pelo seu médico?
Alberto: Para ficar no exemplo de exames de imagem, a inteligência artificial pode incorporar o conhecimento de centenas, ou mesmo de milhares de médicos e, com isso, elaborar diagnósticos muito mais precisos. Sistemas de inteligência artificial, como o Watson, da IBM, já são capazes de entender a linguagem falada e escrita e de consultar um volume enorme de conhecimentos e responder perguntas associadas a estes conhecimentos. O Watson já está sendo usado na medicina e já pode elaborar diagnósticos baseados em interação muito similar a um diálogo – hoje entre o médico e o Watson, mas, no futuro, diretamente entre o paciente e o Watson, acredito.
9. CRM: Ainda na área da saúde, como um robô médico poderia detectar uma das partes mais importantes do diagnóstico e, consequentemente, da cura: a parte emocional do paciente?
Alberto: Por muito tempo se acreditou, mesmo na academia, que máquinas inteligentes jamais seriam incapazes de compreender ou expressar sentimentos. Mas pesquisas recentes têm demonstrado que programas de inteligência artificial podem detectar com precisão, emoções em expressões faciais, na voz ou mesmo em texto. Robôs que falam e apresentam expressões faciais estão em franco desenvolvimento e, em breve, serão capazes de interagir com pacientes de formar equivalente à que interagimos uns com os outros. Com o desenvolvimento da consciência artificial, eles poderão compreender os problemas físicos dos pacientes, seus problemas mentais e mesmo suas angústias.
10. CRM: E os advogados?
Alberto: Imagine um robô consciente que saiba todo o conteúdo da lei e tenha estatísticas sobre as decisões do juiz em todos os casos em que atuou, baseadas no conteúdo de todos os processos que julgou. Hoje os processos já estão sendo digitalizados e no futuro será fácil para um robô advogado obter todas estas informações. Se os robôs não forem advogados certamente serão parte do staff das bancas de advocacia.
11. CRM: Você mencionou Karl Marx, em sua palestra. Comentou que segundo ele, toda a riqueza, advém da exploração do trabalho humano, pelo capital. Assim sendo seremos todos ricos pois teremos tudo sem nenhum trabalho ou ao contrário, uma extraordinária parte da humanidade não terá nada?
Alberto: Todo valor de bens e serviços vem do trabalho humano e do capital que eventualmente viabiliza este trabalho: se pouco ou nenhum trabalho humano é necessário para produzir um bem ou prestar um serviço, este bem ou serviço tem valor próximo de zero ou zero. Construir e colocar em operação uma fábrica de taças de vinho moderna, por exemplo, requer muito capital e trabalho, mas este esforço inicial deixa de ser necessário logo que a fábrica entra em operação. Daí em diante, taças de vinho são produzidas em quantidade sem quase nenhum trabalho humano ou capital adicional. Depois de fabricadas, as taças precisam ser transportadas para centros de distribuição e destes para pontos de venda, e estas etapas requerem trabalho humano e algum capital. Mas, com o avanço da inteligência artificial, todas as etapas da produção de taças poderão ser realizadas com muito menos trabalho humano e muito menos capital. Inicialmente, tarefas humanas ainda realizadas nas fábricas serão cada vez mais realizadas por robôs cada vez mais inteligentes e de uso geral (robôs com aparência cada vez mais humana), até que nenhuma delas necessite ser feita por humanos. Com o tempo, isso levará o custo de produção a zero. As etapas seguintes também serão feitas cada vez mais por robôs, como o transporte por veículos autônomos, a movimentação em centros de distribuição por robôs autônomos, e a venda em pontos de venda cada vez mais baseados na venda/compra direta e automatizada, isto é, sem a necessidade de vendedores humanos. Os robôs humanoides, não humanoides, carros autônomos, etc., serão todos produzidos de forma similar, ou seja, por outros robôs inteligentes, e seu custo também tenderá a zero. Outras tarefas humanas, como o controle de alto nível da logística de produção e distribuição, ou mesmo o projeto e construção de fábricas, passarão também a ser feitos de forma mais econômica por inteligências artificiais e robôs, levando o seu custo de capital também para algo próximo de zero. Tecnologias como a de impressoras 3D ampliadas para a este contexto – já se estuda a construção de prédios inteiros usando impressoras 3D – viabilizarão a automatização, ou robotização, de praticamente todas as atividades humanas, simples ou complexas.
12. CRM: Como fica a questão da fé nestes super robôs?
Alberto: Robôs com consciência própria podem adquirir crenças não ancoradas em fatos, ou seja, a fé em conceitos ou ideias. Isso é um problema, pois demover robôs de crenças e não ancoradas em fatos pode ser tão difícil como é com humanos. Um grande desafio de projeto das consciências artificiais é torna-las imunes a este problema
13. CRM: E a ética deles?
Alberto: Se formos hábeis o suficiente para tomarmos os cuidados necessários para garantir a criação de robôs que sempre hajam de acordo com a lógica e que sejam fiéis à humanidade e aos indivíduos a quem servem, não teremos problemas. Contudo, para isso é importante que a sociedade crie salvaguardas associadas à pesquisa e ao desenvolvimento de máquinas inteligentes. Já há discussões em andamento a respeito na academia e na sociedade em geral, particularmente nos EUA e no Reino Unido. Há, no entanto, o perigo de serem desenvolvidas consciências artificiais e robôs associados com comportamento ético em desacordo com o desejado pela humanidade.
14. CRM: Provavelmente, serão vários. Neste caso feitos com inteligência diferenciada. Códigos de ética distintos. Visão de mundo diferentes. As guerras continuarão? Um mal indício para o futuro da humanidade?
Alberto: Quanto maior o poder concentrado em engenhos de tamanho limitado, como um robô ou uma bomba, maior o perigo. Veja, por exemplo, o impacto sofrido pela humanidade por causa da derrubada das torres gêmeas do Word Trade Center, em Nova York, por aviões guiados por terroristas. Hoje todos aqueles que usam o transporte aéreo tem que gastar mais para cobrir os gastos com a segurança aérea e sofrer mais nos aeroportos devido aos processos de segurança. Nada impede que nações criem exércitos de robôs para o uso em guerras…
15. CRM: Já estamos entrando num terreno de futurologia. O que podemos esperar para os próximos 20-30 anos?
Alberto: Dentro de trinta anos acho que a maioria das pessoas não terá automóveis. Isso provocará uma profunda mudança na forma como as cidades são organizadas, já que o uso de garagens em prédios habitacionais e comerciais não será mais necessário (os carros, autônomos, podem ficar em movimento praticamente constante e estacionar longe das cidades quando necessário). Muitas das atividades cotidianas de hoje não serão mais necessárias, como a ida ao banco se tornou praticamente desnecessária com a Internet. Atividades como a ida ao supermercado poderão ser totalmente automatizadas. Dentro de nossas casas haverão robôs de vários tipos, desenvolvendo diversas tarefas que tornarão nossa vida mais fácil, especialmente a vida daqueles entre nós com necessidades especiais. A consciência artificial, se lograrmos êxito em desenvolvê-la neste período de tempo, ajudará a curar doenças e a resolver problemas de larga escala, como a conquista do espaço ou a preservação do meio ambiente.
16. CRM: Para finalizar, você crê que o desenvolvimento da Inteligência artificial deve ser encarada como uma preocupação ou ao contrário, trata-se de uma excelente oportunidade para que a humanidade viva melhor e mais feliz?
Alberto: Tenho convicção de que o desenvolvimento da inteligência artificial e da consciência artificial representarão um enorme salto para a humanidade. Estas tecnologias representam a melhor e maior oportunidade que a humanidade já teve de conquistar abundância na Terra e também fora dela.
*Alberto Ferreira De Souza é professor de Ciência da Computação e Coordenador do Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É Bacharel em Engenharia (Cum Laude) em Engenharia Eletrônica, Mestre em Ciências em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), e Ph.D. em Ciência da Computação pelo University College London, Reino Unido. É autor/co-autor de uma patente Norte Americana e de mais de 90 publicações. É membro permanente do Comitê Gestor da International Conference on Computer Architecture and High Performance Computing (SBAC-PAD), Senior Member do IEEE e Comendador da Ordem Rubem Braga.